17 Jan 2017
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Ao visitar o Japão, o que mais pode surpreender os brasileiros não é a culinária diferenciada ou a língua extremamente diferente do português, mas o fato de que a maioria dos japoneses usa a bicicleta como forma oficial de locomoção para ir ao trabalho, visitar pessoas ou somente para o lazer. Acredite se quiser, mas isso é estranho para os brasileiros, um povo acostumado e pressionado a usar o carro no dia a dia.
Cena típica em Tóquio.
Conhecidas como Mamachari, Mama = Mamãe e Chari = Charinko (bicicletas da mamãe ou da vovó), em terras japonesas, o uso da bicicleta independe da idade, gênero ou o fato de ter ou não um carro. É o que chamamos de “Cultura da Bicicleta”. Basicamente, consiste na ideia de que você pode deixar o seu veículo a gasolina na garagem e usar o movido a músculos e boa disposição, pois faz bem para o condicionamento físico e para o meio ambiente. Mas existem fatores que colaboram para que o uso da bicicleta seja mais comum por lá do que aqui.
Por que a ‘Terra da Tecnologia’ aderiu à bicicleta?
Bikes no Japão: comodidade e respeito ao estacionar.
O Japão é o terceiro maior país do mundo no número de ciclistas, perdendo somente para Dinamarca e Holanda. Por que ela se tornou uma opção de transporte tão comum para tantos japoneses? O motivo vai muito além de uma causa sustentável. Este hábito vem de muito tempo atrás e passou por diversas gerações e se manteve até os dias atuais. Conhecido por respeitar tradições, os japoneses não dispensam facilmente comportamentos que ancestrais usavam.
Outro motivo é o tamanho das cidades. Além de plana (o que facilita a locomoção de bikes), Tóquio, por exemplo, é uma megacidade com mais de treze milhões de habitantes (tendo mais de 20 milhões de pessoas na região metropolitana). Usar a bicicleta é mais do que necessidade, é questão de sobreviver ao intenso caos urbano. Em trajetos relativamente curtos, pedalar é uma ótima alternativa, apesar de o metrô japonês ser bastante eficiente.
Isso acontece porque é extremamente cômodo usar este tipo de transporte, o que faz com que dois a cada três japoneses o utilizem. Além disso, os japoneses levam a pontualidade a sério: imagine ficar preso no trânsito caótico de Tóquio e perder alguma reunião importante? Fora de cogitação! E ainda tem o custo-benefício. As bikes só gastam a energia de quem pedala, o que proporciona prejuízo zero e diversas vantagens.
E vamos citar o tamanho colossal das cidades mais uma vez. A falta de espaço para estacionar em Tóquio é um problema latente. Pois é, a bicicleta não tem o apelido de ‘magrela’ à toa. Para este pequeno veículo, qualquer espaço é vaga. Isto, levando em conta o respeito e a educação que os japoneses possuem pelos ciclistas no trânsito ou ao ver uma bike estacionada em algum local. O número de roubos é praticamente zero. Claro, para tudo existe exceção, mas, no geral, usar a bicicleta no Japão é mesmo vantajoso em todos os sentidos.
E no Brasil?
Ciclovia Rio Pinheiros, em São Paulo – SP.
Em São Paulo já houve a tentativa de introduzir a Cultura da Bicicleta, porém, sem sucesso. Muito provavelmente de maneira errada, onde a única coisa feita foi tingir ciclovias em diversas ruas e avenidas atrapalhando comércios e obrigando moradores a mudarem suas rotinas. Algumas delas saem de lugares estratégicos, porém terminam em lugares perigosos, como no meio de avenidas, por exemplo.
Antes de mudar a infraestrutura da cidade ‘forçando’ tal cultura, seriam necessários anos de conscientização e divulgação desta ideia. Nós até temos ciclovias bem localizadas, como a que percorre a lateral do Rio Pinheiros, mas ainda temos muito a evoluir neste assunto. É preciso mudar a forma de se pensar, só assim o Brasil trocaria o poluente e desajeitado carro por um veículo mais leve e amigo do meio ambiente. Que tal começar por nós: vamos colocar a bike na rua hoje?